No Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro (sala 2.0.3), na tarde do dia 27/3 (terça-feira).
O Departamento de Línguas e Culturas e o Centro de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, no âmbito do projecto “Dioscóridese o Humanismo Português: os Comentários de Amato Lusitano”, uniram esforços com o objectivo de proporcionar uma reflexão alargada sobre as relações entre Literatura e Ciência, a partir da organização de um ciclo de conferências dedicado a este tema.
A concepção primitiva do papel do poeta e da poesia, originária de um tempo em que a prosa não tinha ainda sido inventada, está presente desde os alvores da civilização helénica. Esta perspectiva reflecte-se nos primeiros textos, com particular incidência nos poemas de Homero e de Hesíodo. Julgava-se que os poetas possuíam inspiração divina e acesso privilegiado a qualquer área do saber. A concepção da autoridade dos poetas nunca desapareceu por completo, se bem que a crença na inspiração divina foi sendo gradualmente substituída pela noção do ingenium, do talento individual de cada poeta.
A Literatura e a Ciência nascem, de facto, de mãos dadas. No século XVI, autores como Amato Lusitano ou Camões recuperam nas suas obras, cada um à sua maneira, esta ligação tão antiga como a arte de escrever, manuseando, com mão diurna e nocturna, os autores greco-latinos de referência, inspirados pelos ideais do Renascimento e pela recém-descoberta de um mundo completamente desconhecido e grandioso.
Das plantas e dos perfumes do mundo antigo, tratados por Teofrasto, Plínio ou Dioscórides, até aos versos inspirados de Camões ou aos amplos comentários de Amato Lusitano à matéria médica há um longo caminho percorrido, feito de avanços e recuos, mas tendo sempre a matriz clássica como uma referência incontornável. Mais tarde, no século XIX, graças à pena de Júlio Verne, Literatura e Ciência entrecruzam-se sob novíssimas perspectivas, ou nem tanto, se pensarmos, por exemplo, na História Verdadeira de Luciano, dando forma a uma sedutora criação literária em que, tantas vezes, a ficção antecipa a realidade.
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